No próximo dia 6 de setembro, os servidores do sistema prisional
paulista terão uma das maiores oportunidades que a categoria já teve para se
unir e manifestar publicamente o seu desejo de mudar a relação atual que existe
com o governo.
São muitas questões pendentes. Questões antigas. Algumas
delas, como a superlotação carcerária, perdurarão por muitos anos ainda antes
que seja resolvida, se é que um dia haverá solução. Tem o problema da
insegurança funcional, que atinge a todos os que trabalham cotidianamente em um
ambiente inóspito, tendo de cuidar de uma população encarcerada que a cada dia
cresce mais, e o estado não acompanha as necessidades desse crescimento.
Nosso trabalho, nossa função, é problemática por
natureza. No entanto, a inoperância do Estado em relação às necessidades de um
sistema prisional esgotado é um fator não previsto na nossa carreira funcional.
Nos locais em que há uma política prisional eficiente, servidores são bem pagos
e correm risco mínimo de sofrer qualquer ato de violência. Onde o sistema prisional
é visto com seriedade, as unidades são automatizadas com toda a segurança para
o servidor.
Essa é a realidade ideal, infelizmente distante da nossa
realidade de servidores do sistema prisional paulista.
Nossa realidade é bem mais dura e crua. Ganhamos mal para
exercer a função que temos. Trabalhamos 12 horas ininterruptas, dia sim e dia
não, quando todos os estudos apontam o perigo do cansaço em prejuízo à
eficiência do trabalhador. Somos convocados a qualquer dia e qualquer hora,
sempre que algum diretor ache que tenha necessidade (e na maioria das vezes,
não há essa urgência toda).
O nosso dia a dia é de desconfiança e de sentidos alertas
o tempo todo. Temos que ficar “espertos” para um possível plano de rebelião,
para as intrigas entre os presos, em relação à honestidade de todos que entram
no nosso ambiente de trabalho. Disso depende nossa vida. Podemos nos tornar
reféns de presos enfurecidos a qualquer momento, da mesma forma em que podemos
ser vítimas de agressões fortuitas por qualquer motivo, ou mesmo sem motivo
algum. Essa necessidade de vigilância permanente corrói nossa saúde – física,
mental, e até social.
Tem outro lado, ainda. Não tão perigoso, mas talvez mais
perverso porque nos faz sentirmos impotentes para solucionar sozinhos: os
desmandos gerenciais. O fato de termos diretores (e até o próprio secretário da
Pasta) que são também servidores do sistema deveria nos livrar de alguns
desmandos, mas isso não ocorre sempre. Há os que abusam da autoridade. Há os
que nos ameaçam constantemente com o corte de algum benefício ou até mesmo
direito constitucional. Assédio moral é o nome para as ameaças, para as
transferências involuntárias de turnos e até de município, para a instauração
de sindicâncias sem nexo algum (apenas para prejudicar o servidor).
O cotidiano junto aos presos nos traz ansiedade, risco de
agressão, e risco de morte. Talvez por ter um contato mais rotineiro e próximo
aos presos, os agentes do sistema estão mais vulneráveis a esse tipo de risco.
Só em 2013, já perdemos cinco companheiros assassinados nas ruas – mortes possivelmente
em decorrência da atividade profissional.
Estamos a mercê disso tudo, e mais um monte de outros
problemas. E quem pensa que estamos falando apenas dos agentes prisionais, ASPs
e/ou AEVPs, se engana. O pessoal administrativo corre riscos. O pessoal da área
médica tem menor contato com os presos, mas os contatos que têm são muito
próximos. Os oficiais operacionais, o pessoal da área-meio, assistentes sociais...
todos sofrem riscos. Todos precisam estar alertas. O problema é da categoria, e
não de uma função específica.
Pra completar o quadro resumido aqui, é preciso falar da
recompensa que nós todos ganhamos para nos arriscarmos dessa forma. A
recompensa que o governo pode e deve nos dar é na forma de respeito, salário, e
condições de trabalho. E estamos insatisfeitos com os três itens citados de
recompensa. Sentimos, e estamos, desprezados pelo governo. E isso não é nada
justo.
A gente vai tolerando, tolerando, até um ponto que não dá
mais para continuar inerte, aceitando todas essas agressões do governo. E se a
situação já está insustentável, a culpa é do governo, é verdade; mas tem uma
parcela de culpa de cada trabalhador do sistema também, e negar isso é bobagem.
Nosso comodismo favorece o desgoverno.
Democraticamente, em assembleias regionais, os
participantes decidiram que tínhamos que fazer algo para mudar esse quadro.
Convocaram o sindicato a promover um ato público, que será realizado no dia 6
de setembro em São Paulo, para demonstrar ao governo a insatisfação com essa
situação toda.
O sindicato está cumprindo o anseio dos que querem
mudanças. Disponibilizou transporte e alimentação para todos que desejam
participar da luta. Está confeccionando faixas, cartazes, e todo o material
necessário para engrandecer o ato. Os representantes do sindicato estão
visitando as unidades prisionais do estado para convocar os companheiros a
participarem desse ato, que deverá ser um divisor de águas para a categoria.
Mas o sucesso do objetivo vai depender da participação dos trabalhadores.
Não percam tempo procurando desculpas para não participar
do ato público da categoria. Não deem ouvidos aos conformados que acham que
podem mudar alguma coisa sem trabalhar por essa mudança. Mexam-se. Assumam para
si a responsabilidade de mudar a sua qualidade de vida profissional. Participem
do ato. Não esperem que outros façam tudo por vocês.
Sindicalizados ou não, participem. Filiados ao Sifuspesp
ou não, participem. Agentes ou não, participem. Aposentados, participem também.
Servidores antigos, servidores novatos, participem. Se querem alguma chance
real de mudar essa situação horrível que vivemos em função do trabalho, a hora
é essa.
O governo não está dando a mínima para as nossas
reivindicações. Se nós, trabalhadores, não nos mobilizarmos, estaremos dando um
sinal claro ao governo de que ele pode, sim, continuar nos ignorando porque nem
nós mesmos estamos interessados em mudar a situação.
Pense nisso. Para não se arrepender depois.
A hora é essa.
valorização do oficial admin., pois somos tratados como descartáveis e assistimos a cada dia o desvio de função do ASP, ocupando cargos administrativo.
ResponderExcluirTem razão, Lurdinha. O oficial administrativo também precisa de valorização. Esse desvio de função a prejudicial para todos, por diferentes motivos. Mas os oficiais administrativos deveriam também participar mais ativamente da vida sindical, reivindicar, ter voz nas reuniões e assembleias.
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