quinta-feira, 29 de agosto de 2013

As razões para participar do Ato Público da categoria



No próximo dia 6 de setembro, os servidores do sistema prisional paulista terão uma das maiores oportunidades que a categoria já teve para se unir e manifestar publicamente o seu desejo de mudar a relação atual que existe com o governo.
São muitas questões pendentes. Questões antigas. Algumas delas, como a superlotação carcerária, perdurarão por muitos anos ainda antes que seja resolvida, se é que um dia haverá solução. Tem o problema da insegurança funcional, que atinge a todos os que trabalham cotidianamente em um ambiente inóspito, tendo de cuidar de uma população encarcerada que a cada dia cresce mais, e o estado não acompanha as necessidades desse crescimento.
Nosso trabalho, nossa função, é problemática por natureza. No entanto, a inoperância do Estado em relação às necessidades de um sistema prisional esgotado é um fator não previsto na nossa carreira funcional. Nos locais em que há uma política prisional eficiente, servidores são bem pagos e correm risco mínimo de sofrer qualquer ato de violência. Onde o sistema prisional é visto com seriedade, as unidades são automatizadas com toda a segurança para o servidor.
Essa é a realidade ideal, infelizmente distante da nossa realidade de servidores do sistema prisional paulista.
Nossa realidade é bem mais dura e crua. Ganhamos mal para exercer a função que temos. Trabalhamos 12 horas ininterruptas, dia sim e dia não, quando todos os estudos apontam o perigo do cansaço em prejuízo à eficiência do trabalhador. Somos convocados a qualquer dia e qualquer hora, sempre que algum diretor ache que tenha necessidade (e na maioria das vezes, não há essa urgência toda).
O nosso dia a dia é de desconfiança e de sentidos alertas o tempo todo. Temos que ficar “espertos” para um possível plano de rebelião, para as intrigas entre os presos, em relação à honestidade de todos que entram no nosso ambiente de trabalho. Disso depende nossa vida. Podemos nos tornar reféns de presos enfurecidos a qualquer momento, da mesma forma em que podemos ser vítimas de agressões fortuitas por qualquer motivo, ou mesmo sem motivo algum. Essa necessidade de vigilância permanente corrói nossa saúde – física, mental, e até social.
Tem outro lado, ainda. Não tão perigoso, mas talvez mais perverso porque nos faz sentirmos impotentes para solucionar sozinhos: os desmandos gerenciais. O fato de termos diretores (e até o próprio secretário da Pasta) que são também servidores do sistema deveria nos livrar de alguns desmandos, mas isso não ocorre sempre. Há os que abusam da autoridade. Há os que nos ameaçam constantemente com o corte de algum benefício ou até mesmo direito constitucional. Assédio moral é o nome para as ameaças, para as transferências involuntárias de turnos e até de município, para a instauração de sindicâncias sem nexo algum (apenas para prejudicar o servidor).
O cotidiano junto aos presos nos traz ansiedade, risco de agressão, e risco de morte. Talvez por ter um contato mais rotineiro e próximo aos presos, os agentes do sistema estão mais vulneráveis a esse tipo de risco. Só em 2013, já perdemos cinco companheiros assassinados nas ruas – mortes possivelmente em decorrência da atividade profissional.
Estamos a mercê disso tudo, e mais um monte de outros problemas. E quem pensa que estamos falando apenas dos agentes prisionais, ASPs e/ou AEVPs, se engana. O pessoal administrativo corre riscos. O pessoal da área médica tem menor contato com os presos, mas os contatos que têm são muito próximos. Os oficiais operacionais, o pessoal da área-meio, assistentes sociais... todos sofrem riscos. Todos precisam estar alertas. O problema é da categoria, e não de uma função específica.
Pra completar o quadro resumido aqui, é preciso falar da recompensa que nós todos ganhamos para nos arriscarmos dessa forma. A recompensa que o governo pode e deve nos dar é na forma de respeito, salário, e condições de trabalho. E estamos insatisfeitos com os três itens citados de recompensa. Sentimos, e estamos, desprezados pelo governo. E isso não é nada justo.
A gente vai tolerando, tolerando, até um ponto que não dá mais para continuar inerte, aceitando todas essas agressões do governo. E se a situação já está insustentável, a culpa é do governo, é verdade; mas tem uma parcela de culpa de cada trabalhador do sistema também, e negar isso é bobagem. Nosso comodismo favorece o desgoverno.
Democraticamente, em assembleias regionais, os participantes decidiram que tínhamos que fazer algo para mudar esse quadro. Convocaram o sindicato a promover um ato público, que será realizado no dia 6 de setembro em São Paulo, para demonstrar ao governo a insatisfação com essa situação toda.
O sindicato está cumprindo o anseio dos que querem mudanças. Disponibilizou transporte e alimentação para todos que desejam participar da luta. Está confeccionando faixas, cartazes, e todo o material necessário para engrandecer o ato. Os representantes do sindicato estão visitando as unidades prisionais do estado para convocar os companheiros a participarem desse ato, que deverá ser um divisor de águas para a categoria. Mas o sucesso do objetivo vai depender da participação dos trabalhadores.
Não percam tempo procurando desculpas para não participar do ato público da categoria. Não deem ouvidos aos conformados que acham que podem mudar alguma coisa sem trabalhar por essa mudança. Mexam-se. Assumam para si a responsabilidade de mudar a sua qualidade de vida profissional. Participem do ato. Não esperem que outros façam tudo por vocês.
Sindicalizados ou não, participem. Filiados ao Sifuspesp ou não, participem. Agentes ou não, participem. Aposentados, participem também. Servidores antigos, servidores novatos, participem. Se querem alguma chance real de mudar essa situação horrível que vivemos em função do trabalho, a hora é essa.
O governo não está dando a mínima para as nossas reivindicações. Se nós, trabalhadores, não nos mobilizarmos, estaremos dando um sinal claro ao governo de que ele pode, sim, continuar nos ignorando porque nem nós mesmos estamos interessados em mudar a situação.
Pense nisso. Para não se arrepender depois.
A hora é essa.




domingo, 4 de agosto de 2013

Precisamos é de mobilização.



“Mobilização” é a palavra da moda. “Vamos mobilizar”, lê-se com frequência nas redes sociais, nos discursos politizados, e até mesmo nas propagandas. Mas o que vem a ser “mobilização”? “Ir para as ruas” ou, falando na língua sindical, “fazer greve”? Estas respostas são muito limitadas. Mobilização é algo muito maior.
Greve é um dos possíveis resultados de uma mobilização, mas não a mobilização em si.
Mobilização é a reunião de pessoas em torno de um interesse comum a ser defendido, e que se manifestam de diversas formas – ato público, greve, abaixo-assinado, etc. A mobilização é anterior à manifestação. É o encontro de pensamentos, ideias, teorias, sentimentos, necessidades. Requer interesses comuns, vontade de agir, estratégia e ação.
Analisem o conceito elaborado pelo escritor, filósofo e educador colombiano Bernardo Toro, um dos mais importantes pensadores da educação e democracia na América Latina: "mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido também compartilhados. Convocar vontades significa convocar discursos, decisões e ações no sentido de um objetivo comum, para um ato de paixão, para uma escolha que ‘contamina' todo o quotidiano."
E mais, do mesmo autor: “não se faz mobilização social com heroísmo. As mudanças são construídas no cotidiano por pessoas comuns, que se dispõem a atuar coletivamente, visando alcançar propósitos compartilhados".
O desvirtuamento da palavra “mobilização” fez com que o senso comum a confundisse e a limitasse a manifestações públicas – o tal do “vem pra rua”. Mas mobilização acontece sempre que um grupo, estimulado por um objetivo comum, decide buscar os resultados desejados por todos. E essa busca não se realiza em uma única manifestação; se dá em inúmeras ações, pequenas e grandes, no dia a dia, desenvolvidas por pessoas que voluntariamente se sentem responsáveis por atingir os objetivos pretendidos. Quem nos ensina essa lição, mais uma vez, é o lúcido Bernardo Toro: “A mobilização requer uma dedicação contínua e produz resultados quotidianamente”.
Greve é evento. Tem o seu valor, às vezes produz resultado satisfatório quando o objetivo é curto. Mas é evento, e o último recurso contra a falta de diálogo entre patrão e empregado.
Mobilização é ação contínua, construída pela vontade de se alcançar um propósito permanente, um princípio maior. Dá mais trabalho, é cansativo, e, no entanto, é a solução – ou, ao menos, o melhor meio que temos para alcançar a solução. Mobilização exige força, união, determinação. E deixa de herança, para os seus participantes, um grupo ainda mais forte, mais unido e mais determinado.
É disso que a gente precisa.
Não precisamos deixar nossos destinos nas mãos de outros. Somos capazes de mudar o que não achamos justo ou adequado, desde que assumamos sermos responsáveis pelo nosso futuro e adotemos uma atitude transformadora. E assim se inicia uma mobilização.


Um lugar para discussões sérias de assuntos de interesse da categoria


Já temos site, jornal, conta no facebook... pra que ter mais um veículo de comunicação, um blog?
Por que espaço de discussão nunca é demais. E cada veículo de comunicação tem seu perfil, seu público, seu objetivo.
Aqui, no blog, queremos algo mais profundo. Queremos discutir e trazer textos que forcem a todos nós pensarmos melhor sobre as questões, e apresentarmos considerações, comenrários de forma madura, respeitável e, principalmente, colaborativa. Queremos aqui trazer amadurecimento das ideias, das teorias.
Não teremos postagens diárias, como no site ou no facebook, porque os textos que colocaremos aqui serão frutos de reflexão e de estudo, e não meramente informativos.
É um outro tipo de comunicação. Mais construtivo.
Contamos com a sua colaboração nesse sentido. Traga as suas ideias, sugira temas para discussão.
E sejam todos muito bem vindos.